26 de outubro de 2010

Flotation Toy Warning - Bluffer's Guide to the Flight Deck [2004]




Jornadas intrépidas a terras distantes, um punhado de testemunhos fantásticos, viagens labirínticas pelo espaço e pelo tempo não seqüencial. Pisca, esfrega os olhos. Uns exploradores do pólo norte vagando num balão de ar, sobre planícies nunca dante vistas, sem um mapa sequer e sem terem nem idéia de onde ou quando vão pousar. Os navios, as máquinas e os telescópios. A grandeza, a saudade, o extraordinário; a busca pelo objeto mítico. As lembranças seculares, os sonhos acordados. Algum arrependimento, a partida, o eterno retorno.


Pinéu, né? É por aí que esse disco vai, através dum pop de câmara lento, hipnagógico, com arranjos space/dream minimalistas que constroem uma estranha intensidade na sutileza. O clima nostálgico dos timbres persegue instrumentos aerofônicos que nem existem, e de repente você está surtando também. Cuidado.


Nem lembro bem como conheci, acho que o negócio só se materializou aqui, assim, do nada. O registro mais antigo que achei nas minhas coisas foi um e-mail de 2006, em que eu pus o nome do disco como assunto e escrevi só uma frase: "esses são os caras". De tempos em tempos volta para a playlist, não tem como.


Bluffer's Guide to the Flight Deck
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24 de outubro de 2010

Starflyer 59 - Silver [1993]




1996 ou 7, redondezas do CEFET. O Paul chega com um sorriso de orelha a orelha, segurando uma sacolinha no bolso do seu guarda-pó de Edificações. O povo olha meio desconfiado: "ê, que alegria toda é essa? Que que 'cê tem aí?" - "Carta da namorada?" - "Proposta de emprego?" - "Um contrato do Neo com uma major?" - "Uma cartela de doces?". Ainda quieto, com aquele sorriso de quem viu dEUS e com um cuidado-quase-veneração, ele tira os fones de ouvido e mostra dois cds sem nome: um inteiro prateado e um inteiro dourado.


Tinham recém chegado ali na Temptation, ou na Hells Bells, ou na 801, sei lá, num daqueles lugares que em se mandava importar cds nos tempos pré-Napster. Depois de um tempo ele me arranjou uma cópia em fita cassete. E não é que era realmente o paraíso do fuzz e do big muff, dos vocalzinhos suaves e arrastados, da mais pura chapação celestial? Aquele ar dream pop shoegazer estratosférico simplíssimo podia fazer qualquer um ver a luz, mas admito que só fui perceber que o troço era religioso mesmo quando alguém disse "ei, isso aí é banda de crente"! Pô, não é que era mesmo? Mas, bizarramente, não fazia a menor diferença.


É que, na real, as letras são bem sutis e nem tocam muito no assunto. E os caras são carolas, mas são carolas com crasse. Ou seja, não é nem 500 Graus e nem white metal, mas a Cleycianne ainda acha que se ouvir e não gostar, é porque tá amarrado 3x.


Silver
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23 de outubro de 2010

Deerhunter - Halcyon Digest [2010]




Alguns discos que foram lançados este ano já se tornaram clássicos aqui na estratosfera, como o Halcyon Digest. Logo que o negócio vazou, Marcell já levantou a bandeira: "clássico instantâneo, amor à primeira audição". Mas ele também estava certo dizendo que postar "o que realmente se tenha entendido" é mais digno do que se estropiar na corrida armamentista dos links vazados. Assim, quase dois meses de amor auditivo ininterrupto, está certo: não foi fogo de palha.


O álbum é comoventemente simples e bem estruturado. As canções parecem umas elipses em concordância traçadas a grafite, rola um senso de conjunto. Os timbres noventistas trazem uma sensação familiar no meio da confusão fractal, e as melodias chegam a ficar na cabeça por dias, tipo um brainworm do bem. Pareceu foda ser um cara esquisitão de dois metros de altura e cinqüenta quilos, que costumava se inspirar num final de semana lisérgico qualquer pra gravar um EP malucão de meia hora, e de repente lançar uma bolacha histórica dessas.


Os comparsas Mari Zarpellon e André Ramiro também assinaram embaixo. 


Alcyon Digest
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22 de outubro de 2010

Akron/Family - Akron/Family [2005] + Love is Simple [2007]





Quem me apresentou o Akron/Family foram duas pessoas incríveis, o Jonathan Breger e a Jamie Menzel, seres que trombei durante uma mochilada em Montevidéu em 2006 e depois nunca mais vi, mas que deixaram várias boas lembranças. A Jamie era uma querida e tinha uma banda chamada World History. Já ele era o tipo de cara que mora num ônibus escolar com uma fogueira dentro, trabalha seis meses por ano numa fazenda de orgânicos e passa os outros seis hitchhiking por aí - bem a cara dele esse som, note-se. Na última vez em que nos comunicamos ele estava no Camboja, obviamente sem saber falar uma palavra de Khmer. 


Foi com essa cambada que aprendi a gostar do novo folk psicodélico, da New Weird America, de Animal Collective e de Riot Folk. Pasmem: eles não tomavam chá de cogumelo nem nada. Já os caras do Akron/Family... bom, só sei que eles eram alarmantemente barbudos, se refugiavam no mato, nadavam pelados no rio e adoravam um tal Ak-Ak. Estranho algo tão campestre se dar bem no Brooklyn. Culpa do Michael Gira.


Michael Gira é o fundador da Young God Records, selo de Nova Iorque especializado em figuras outsiders e off-hypes, que acabou lançando o primeiro álbum do Akron/Family, em 2005. Esse disco já nasceu clássico, convenhamos. Todos na banda tocam de tudo, rola uma sinergia absurda entre os músicos, uma coisa ritual, envolvente mesmo. O Gira se impressionou tanto com o talento desses ursos das montanhas que até os convidou a ser a banda de apoio do seu projeto Angels of Light, que acabou lançando um ótimo split com o A/F no mesmo ano.


O outro disco deste post foi lançado dois anos depois, em 2007. Mesmo sem aquela crueza singela e sincera do debut, Love is Simple pode ser considerado uma obra-prima. A loucuragem mezzo folk/mezzo prog, mezzo étnica/mezzo rocker continuou bem amarrada, numa viagem bem produzida e de arestas simetricamente aparadas  - o que incomodou alguns fãs mais xiitas, é verdade. Mas a pena mesmo é que logo após o lançamento desse puta álbum, e um pouco antes do início da turnê americana, um dos membros, Ryan Vanderhoof, saiu da banda para viver em um retiro budista Dharma. A célula foi quebrada, a coesão sonora-espiritual se diluiu e o último cd, Set'em Wild, Set'em Free, lançado em 2009, acabou ficando uma passação esquisita, sem Ak-Ak pra iluminar e guiar essas mentes tão férteis.


Akron/Family
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Love is Simple
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20 de outubro de 2010

Afghan Whigs - Gentlemen [1993]



Falar bagaceirice em música não é um troço muito fácil - se você tem estômago, claro. Talvez o problema esteja nos movimentos peristálticos das whore singers, nos axégodes e suas celulites, ou nos GTA pimps smacking their bitches up. Vai saber, pra gente normal o tema é delicado mesmo.


Hoje você pode tocar no assunto com sarcasminho de buatchy, tipo o Natalie Portman's Shaved Head, mas falar seriamente de sacanagem sem provocar vergonha alheia - porque, afinal, sacanagem é coisa séria - em plenos anos 90 não era pra qualquer um.  Antes fosse nos 70, abençoada purpurina. Mas nem pansexualismo rolava na jogada, era um esquema de amor mesmo. O cara berra e sofre bagarai.


Falando em purpurina, desconfio que o Brian Molko (outro que inseminou o róque com baixaria love stories), fã declarado de Afghan Whigs e do Greg Dulli, tenha se inspirado na letra de What Jail is Like para batizar sua Scared of Girls.


Gentlemen
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Aden - Black Cow [1999]





Sonzinho de Washington DC, embalou algumas tardes da minha recém adquirida maioridade, uns 10 anos atrás. E eu não entendia por que a catrefa do grindcore e do doom metal me achava tralálá... o estranho é que os twees também achavam que tinha nota demais e tchu tchu tchu de menos nisso aí.

Essa banda deu um sumiço neste século - lançaram o último disco em 2002 e depois nunca mais. Sei que o guitarrista e banjista (que é um octopus, por sinal) continuou tocando com um povo da New Weird America, mas parece que é só.

Há pouco sugeri esse disco a um amigo, mas parece que não se encontra mais para baixar em lugar algum - e olha que ele é empenhado na função da busca. Bom, look no further:

Black Cow