19 de julho de 2012

Cousteau - Cousteau [1999]



Não havia blogs de música em 99. Quer dizer, no mundo, devia haver sim. Uns dois. Mas o que pegava mesmo era uns sites brasileiros em HTML vagabundo de link azul, hospedados numas Geocities da vida, que, mesmo assim, conseguiam nos deslumbrar diante do admirável mundo novo da acessibilidade à informação privilegiada.

No meio deles, maravilhas como o Indie Place e o Imaginary Friends já sussurravam uns nomes de bandas que, de outro modo, você teria tanta chance de conhecê-las quanto de ganhar do Deep Blue no xadrez. Sem precisar ir aos Correios, a gente ouvia falar que o Postal Blue estava se dando bem na gringa e que havia um site novo na praça, um tal de Trabalho Sujo. Naquele inverno um sujeito havia recém chegado da Escócia e opinou: a única coisa boa que tinha surgido de bom por lá naquele semestre era um tal de Cousteau. Beleza, bora ligar o Napster e deixar o computador ligado durante a madrugada, pra na outra manhã, com sorte, ter um arquivo mp3 inteiro pra ouvir. Rolou, e era The Last Good Day of the Year. Fodeu.

O Cousteau é uma banda fudida com um vocalista que canta que nem o Scott Walker: sonzeira romântica, dramática, intensa e meio canastrona. Se um décimo das bandas bregas que rolam por aí fossem assim, eu frequentaria mais jantares dançantes, certeza.

Cousteau - Cousteau 

16 de fevereiro de 2012

Sunny Day Real Estate - LP2 [1995] e The Rising Tide [2000]






É verdade, amiguinhos: já houve uma época em que a palavra emo não era necessariamente depreciativa. Choro e desespero eram commodities baratos, enquanto os dias de sol sofriam forte valorização imobiliária. Nessas coordenadas do espaço-tempo, a Imobiliária Dia Ensolarado era praticamente cultuada por uma clientela que gostava de barulheira, mas também dum melodraminha (me included).


Acho engraçado que no documentário do Foo Fighters (grupo que chegou a compartilhar dois integrantes com o Sunny Day) a banda seja retratada como algo menor, sem muita relevância: "um sonho de adolescência sem futuro", segundo o  baixista Nate Mendel. Talvez a treta do Dave Grohl com o William Goldsmith tenha algo a ver com isso (o Dave jogou fora e refez ele mesmo as faixas que o  baterista  havia gravado para o The Colour and the Shape, chutando-o da banda logo depois), embora seja verdade que, enquanto empresa, o Sunny Day não mandava tão bem assim. Eram emos até nisso, e durante o tempo em que a raiz punk/hardcore não era ainda um elo perdido, plantavam e regavam conflitos ideológicos no pátio das gravadoras. Nessa onda, rejeitaram a oferta de uma major e optaram por um selo menor, que faliu pouco tempo depois de lançarem o The Rising Tide.

A galera mais xiita, que só ouve a fase SubPop deles, não gosta desse disco órfão. Diz que está prog e megaproduzido, e que gostavam mais do Jeremy Enigk quando não entendiam o que ele dizia. Era mais "misterioso". A real, jogada pelo próprio vocalista numa entrevista, é que quando ele chegou ao estúdio pra gravar o LP2, as letras nem estavam prontas ainda - aí ele improvisou alguns murmúrios na hora. Do it yourself, and quickly!


LP2
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The Rising Tide
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7 de outubro de 2011

Dan Black - Un [2009]



O Dan Black pode ter aquele jeitão ploc-ploc pão-com-ovo dele, mas que o rapaz sabe fazer música *pop*, ah sabe. Tá, eu já disse isso, tou ligado. Em todo caso, fazer música pop perfeita não basta para garantir o sucesso de alguém; nem assinar com uma major, nem chamar o Kid Cudi pra fazer participações, nem ser indicado num VMA qualquer. É, a vida é dura... he was dressed for success, but success never came. Uma pena, mas talvez o mainstream não seja pra você, amigo. Pense bem, o Passion Pit, que chegou a fazer um remix bizarrão de uma música sua, se deu um pouco melhor. O que isso quer dizer?


Bom, sou teu fã mesmo assim.


Un
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26 de setembro de 2011

Tristeza - Insound Tour Support Series vol.1 [1999] e Dream Signals in Full Circles [2000]





Como eu ia dizendo, o sol da Califórnia pode fazer mais do que deixar a pele do Ken cor de laranja. De vez em quando saem de lá uns branquelos barbudosdesses sujeitos talentosos com bom gosto pra música, tipo o Jimmy LaValle. Yeap, o front man do Album Leaf (que já existia na época como projeto paralelo) tocava guitarra no Tristeza.


Conheci a banda no site da Insound, que já me ajudou muito nessa vida. Não só a mim, mas às bandas também, porque periodicamente lançava EP's promocionais, com faixas inéditas, para bancar turnês pra rapêize. E foi o Tristeza quem estreou a série, que dali em diante apoiou artistas como Bright Eyes, Ida, Camera Obscura, Versus e The Rapture.


Sobre o som, uma descrição fast-food poderia dizer assim: teclados atmosféricos sob loops hipnóticos, quebrados no meio, com dedilhados que te enganam. O povo por aí costuma dizer que é post-rock, basicamente por se tratar de uma banda instrumental, mas não vem ao caso cavocar muito na meta-coisa da parada: longwaves não são pré-requisitos pro rótulo. Ou seja, em nenhum momento os caras abrem tudo, pisando em três pedais de distorção ao mesmo tempo - aliás, não pisam em nenhum, as guitarras são sempre bem limpinhas.


Durante a digestão, eles não apelam ao recurso da long wave - a tensão é construída na base de arranjos que se resolvem no contra-tempo. E isso deles tocarem super bem também não implica em punhetaria, pelo contrário: quem estiver esperando por algo assim vai acabar achando o troço todo meio monótono. De qualquer forma, o Dream Signals in Full Circles foi gravado e mixado em 10 dias. Aí é covardia, né?


Insound Tour Support Series [vol. 1]
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Dream Signals in Full Circles
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20 de julho de 2011

Ride - Nowhere [1990]



Clássico dos clássicos, o melhor disco do Ride de longe e, por consenso, a segunda maior referência shoegazer do mundo depois do Loveless, do My Bloody Valentine (ok, capítulo à parte). Foi o 74º lançamento da Creation Records, e como piada, ficou em 74º lugar do 90's Top 100 da Pitchfork.


Eu tinha apenas nove anos quando ele foi lançado; desnecessário dizer que só fui conhecer meia dúzia de anos mais tarde, nos anos cósmicos da chatolescência. Não sou tão indie assim. ¬¬ Mas enfim, emocionou, e na época lembro de escutar os mais velhos (respect!) discutindo, no corredorzinho agradável que um dia foi o James Bar, se o Tarantula (última bolacha inédita da banda) era ou não um álbum à altura do Ride. Não, não era.


Nowhere
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1 de maio de 2011

Warpaint - Exquisite Corpse [2009]




Não importa se elas são ou não queridinhas da América, o que importa é que o John Frusciante gravou esse EP com seus próprios gravadores de fita de rolo. E também é bacana saber que não é só a sua banda que se enrola a valer pra fazer um disquinho: as Warpaint começaram este em 2007, pararam, voltaram, mudaram de idéia, fizeram tudo de novo em 2008, meio que soltaram o EP por baixo dos panos, depois se enrolaram mais um tempo e finalmente lançaram por um selo, lá no final de 2009.


Ano passado saiu o primeiro full-length da banda, debut aguardado à base de ansiolíticos. As músicas estão bacanas, o álbum é bem bom e tal, maaas... não rola este clima. Por enquanto, este aqui continua sendo O disco delas.


Exquisite Corpse
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18 de fevereiro de 2011

Thieves Like Us - Play Music [2008] e Again and Again [2010]





Primeiro foi um romance noir clássico, do tipo crime/tragédia (1937). Depois, baseados nele, vieram dois filmes (1950 e 1974). O último inspirou uma música do New Order (1984), que por sua vez influenciou um grupo de synth pop lo fi (2002). O jogo de dominó no nome Thieves like Us é mó blasé. 


E os caras da banda vão atrás do glamour mesmo: fazem o tipinho cidadãos do mundo (o vocalista é de Nova Iorque, o camarada dos synths e o baterista são suecos; eles se conheceram em Berlin mas acham que são de Paris), curtem uma pesquisa em electronica vintage e todo aquele ar de metrópole retrofuturista. O resultado podia ser uma parada assim, clubber dândi, mas para nossa alegria o som cede ao estigma e acaba sendo esquisitão e um tanto quanto tristonho.


Os vocais gravados em casa, em cima de mil layers de sintetizadores analógicos, imprimem a sinceridade dum pobre nerd; um pobre nerd baladeiro que pode gravar seu primeiro disco em diferentes lugares do planeta - o Play Music foi feito em seis cidades, sendo uma delas o Rio de Janeiro. Aliás, em 2009 eles tocaram em Porto Alegre e São Paulo, e só fiquei sabendo disso quase um ano depois... arranquei os cabelos, é claro.


Play Music
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Again and Again 
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