30 de dezembro de 2010

Cut Copy - In Ghost Colours [2008]




Daí tem o Cut Copy, claro. Nem tem muito o que falar, a não ser que este disco pode salvar vidas e que quem não ouviu deveria ouvir.

E deveríamos todos ser muito gratos à Austrália por ela ter esquecido aquela história de surf-music-óleo-da-meia-noite e ter começado a presentear o mundo com electro gifts de primeira, tipo o Van She, os Presets, o Pnau, o Empire of the Sun... e o Cut Copy.

O Zonoscope, terceiro disco deles, é pra sair no começo de fevereiro. An-si-e-da-de.


In Ghost Colours
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12 de novembro de 2010

The Rural Alberta Advantage - Hometowns [2008]




Tá, confesso: baixei esse disco porque a Pitchfork deu uma nota boa na época, prontofalei. A resenha saiu por ocasião do relançamento do álbum pela Saddle Creek, em meados de 2009, quando o power trio assinou contrato e deixou para trás o status de melhor banda independente do Canadá


As canções sobre os verões nas Rochosas e os invernos campestres ganharam meu coração; os arranjos diretos e a sinceridade das letras são fodas. E ah sim, o baterista é um surtado, isso contou também. 


Alguém disse que não passava de uma chupação de um tributo ao Neutral Milk Hotel, mas bah, esse alguém não se ligou na infiltração dum certo synth pop tosco ou no equilíbrio semi afinado que os backings da menina trazem pra parada. Por outro lado, também não se trata de um absurdo, em absoluto - a estética lo-fi, os violões distorcidos e os eventuais descontroles do vocalista não disfarçam que os RAA gostam mesmo da patota do Jeff Mangum, assimilando e retransparecendo todo aquele desespero melancólico que consegue deixar nossos dias subtropicais ainda mais animados.


Hometowns
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9 de novembro de 2010

Miike Snow - Miike Snow [2009]




Ano passado eu estava super viciado nesse disco. Desejei muito que ainda acontecem edições da Invasão Sueca em Curitiba, até mandei um tweet ao Papai Noel pedindo um show dos caras por aqui. E não é que, quase exatamente um ano depois, meu pedido foi atendido? Quer dizer, mais ou menos, porque a banda se apresentaria em São Paulo, Porto Alegre e Recife, mas né? Jogo bom assim mesmo.


E lá fomos eu e o Jaime para o Rio Grande do Sul. Olha, vou te dizer, foi foda! Entrou pro top 10 de shows da vida. Bem mais pesado que no disco, eletrônico pancada mesmo. Não acreditei na vibe do povo pulando e cantando os refrões - afinal, uma semana antes parecia que ninguém nunca tinha ouvido falar neles. E rolou mais uma coisa inesperada nesse sentido: foi para vê-los ao vivo que 60 fãs do Rio de Janeiro se reuniram, numa iniciativa inédita no Brasil, para bancar a gig do próprio bolso, conseguindo no fim levar 850 pessoas para o Circo Voador em plena segunda-feira (!!). Palmas pra rapaziada de lá, mandaram bem.


Mas então, baixa aí, ouve e vê se concorda com a gente: o clima é soturno, um pop hipnótico, bem construído. Nem vou comentar que esses camaradas já produziram coisas pra Madonna e pra Britney pra não criar resistência, haha, mas acredite, eles usam seus poderes para o bem. Talvez o electro-ska esquisito de Animal (primeira faixa e primeiro single do álbum) te deixe meio em dúvida na primeira audição (isso aconteceu comigo), mas é só seguir adiante pra perceber que o disco inteiro é phoda. Em pouco tempo as estrofes estarão ecoando pela sua cabeça e você mal se lembrará de ter estranhado um dia. Tá, acho que esse coelho bizarro com chifres (que aparece em todos os clipes deles) também pode ter alguma coisa a ver com isso.

1 de novembro de 2010

Coconut Records - Nighttiming [2007] e Davy [2009]





O Jason Schwartzman é do tipo come-quieto - ele sempre está por aí, mas a gente mal vê. Bem, ele também parece não fazer muita questão de ser visto. Tipo, ele é ator, sobrinho do Francis Ford Copolla e primo do Nicolas Cage, o irmão dele faz aqueles blockbusters milionários horríveis, mas ele mesmo quase só pega pontas. Várias delas, na real. Ele foi o Luís XVI no Maria Antonieta e o Ringo Starr em Walk HardDe vez em quando dá uma de protagonista, como no seriado Bored to Death e nos curtas Hotel Chevallier e The Darjeeling Limited (que, aliás, ele ajudou a escrever). E olha que o cara é bom, é engraçado.


O Coconut Records é a sua persona musical. Ele compõe as letras e as melodias, grava quase todos os instrumentos e arranjos. Lança os discos por um selo que ele mesmo criou, e divulga de mansinho, daquele jeitão Onde Está Wally. Quando fui ao cinema ver Cloverfield, durante a cena da festa, reconheci o riffzinho de West Coast: come-quieto. Ele também chama o povinho ator pra participar das gravações - a Kirsten Dunst, a Jennifer Furches e a Zooey Deschanel fizeram backing vocals numas músicas dele (come-quieto?). E falando na Zooey <3, só fui reparar que ele aparece no filme do Guia do Mochileiro das Galáxias lá pela terceira vez que vi - e são só alguns segundos. Come-quieto!


Quem me ensinou a prestar atenção tanto nele quanto nela foi a Alyssa Aquino, enquanto papeávamos sobre clássicos pessoais e bandas da vida. Confesso que a primeira vez que ouvi o Nighttiming achei o disco um pouco fácil demais, mas quando fui perceber, o bicho já era o mais ouvido do meu Last.fm. Tá certo que só abri minha conta em 2006, e que o scrobbler não pega fitas k7 ou as coisas que eu ouço no iPobre ou no som da sala, etc, etc, mas pô, bateu até as audições digitais de The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars!


Eita, me pegou desprevenido. Isn't that the way it goes?


O som é extremamente pop, sensível e engraçado ao mesmo tempo - e ainda é um mistério como foi possível misturar esses ingredientes sem dar em água com açúcar. O Nighttiming corrobora minha teoria de que corações quebrados geram os discos mais inspirados, e contém vários hits em potencial (nenhum chegou a ficar muito conhecido, naturalmente). Uns dois anos depois do lançamento, uma DJ aqui da micrópole descobriu a banda e começou a tocar uma dessas faixas na balada. Super funcionou na pista, e era ótimo poder contar com essas pequenas e agradáveis ilhas num mar de sucessos do novo-róque chinfrim. Claro, depois de um tempo essa faixa chegou até a enjoar um pouco, bateu cabelo demais. Mas ok, repetition kills you, e o ponto é provar que rolaria: he could if he would.


O segundo disco, Davy, é perfeito para embalar road-trips (não tenho como ouvir Microphone sem lembrar da cara de felicidade da Ms. Kummer com seus fones de ouvido no ônibus para Pucón). O álbum segue uma linha mais sutil, acústica, sem referências irônicas a episódios da vida noturna pós-break-up ou riffs roqueiros weezerianos. Talvez tenha a ver com as reciclagens que costumam acontecer depois de refletirmos sobre nossas próprias retrospectivas. O Jason com certeza andou fazendo isso, a julgar pelo clima autobiográfico de Drummer, canção cuja letra, após resumir os anos da vida dele em frases sucintas, culmina no refrão "...and I was the drummer in a band that you heard of". Ah é, faltou mencionar isso - ele também era baterista do Phantom Planet. Alô, O.C.!


Nighttiming
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Davy
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26 de outubro de 2010

Flotation Toy Warning - Bluffer's Guide to the Flight Deck [2004]




Jornadas intrépidas a terras distantes, um punhado de testemunhos fantásticos, viagens labirínticas pelo espaço e pelo tempo não seqüencial. Pisca, esfrega os olhos. Uns exploradores do pólo norte vagando num balão de ar, sobre planícies nunca dante vistas, sem um mapa sequer e sem terem nem idéia de onde ou quando vão pousar. Os navios, as máquinas e os telescópios. A grandeza, a saudade, o extraordinário; a busca pelo objeto mítico. As lembranças seculares, os sonhos acordados. Algum arrependimento, a partida, o eterno retorno.


Pinéu, né? É por aí que esse disco vai, através dum pop de câmara lento, hipnagógico, com arranjos space/dream minimalistas que constroem uma estranha intensidade na sutileza. O clima nostálgico dos timbres persegue instrumentos aerofônicos que nem existem, e de repente você está surtando também. Cuidado.


Nem lembro bem como conheci, acho que o negócio só se materializou aqui, assim, do nada. O registro mais antigo que achei nas minhas coisas foi um e-mail de 2006, em que eu pus o nome do disco como assunto e escrevi só uma frase: "esses são os caras". De tempos em tempos volta para a playlist, não tem como.


Bluffer's Guide to the Flight Deck
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24 de outubro de 2010

Starflyer 59 - Silver [1993]




1996 ou 7, redondezas do CEFET. O Paul chega com um sorriso de orelha a orelha, segurando uma sacolinha no bolso do seu guarda-pó de Edificações. O povo olha meio desconfiado: "ê, que alegria toda é essa? Que que 'cê tem aí?" - "Carta da namorada?" - "Proposta de emprego?" - "Um contrato do Neo com uma major?" - "Uma cartela de doces?". Ainda quieto, com aquele sorriso de quem viu dEUS e com um cuidado-quase-veneração, ele tira os fones de ouvido e mostra dois cds sem nome: um inteiro prateado e um inteiro dourado.


Tinham recém chegado ali na Temptation, ou na Hells Bells, ou na 801, sei lá, num daqueles lugares que em se mandava importar cds nos tempos pré-Napster. Depois de um tempo ele me arranjou uma cópia em fita cassete. E não é que era realmente o paraíso do fuzz e do big muff, dos vocalzinhos suaves e arrastados, da mais pura chapação celestial? Aquele ar dream pop shoegazer estratosférico simplíssimo podia fazer qualquer um ver a luz, mas admito que só fui perceber que o troço era religioso mesmo quando alguém disse "ei, isso aí é banda de crente"! Pô, não é que era mesmo? Mas, bizarramente, não fazia a menor diferença.


É que, na real, as letras são bem sutis e nem tocam muito no assunto. E os caras são carolas, mas são carolas com crasse. Ou seja, não é nem 500 Graus e nem white metal, mas a Cleycianne ainda acha que se ouvir e não gostar, é porque tá amarrado 3x.


Silver
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23 de outubro de 2010

Deerhunter - Halcyon Digest [2010]




Alguns discos que foram lançados este ano já se tornaram clássicos aqui na estratosfera, como o Halcyon Digest. Logo que o negócio vazou, Marcell já levantou a bandeira: "clássico instantâneo, amor à primeira audição". Mas ele também estava certo dizendo que postar "o que realmente se tenha entendido" é mais digno do que se estropiar na corrida armamentista dos links vazados. Assim, quase dois meses de amor auditivo ininterrupto, está certo: não foi fogo de palha.


O álbum é comoventemente simples e bem estruturado. As canções parecem umas elipses em concordância traçadas a grafite, rola um senso de conjunto. Os timbres noventistas trazem uma sensação familiar no meio da confusão fractal, e as melodias chegam a ficar na cabeça por dias, tipo um brainworm do bem. Pareceu foda ser um cara esquisitão de dois metros de altura e cinqüenta quilos, que costumava se inspirar num final de semana lisérgico qualquer pra gravar um EP malucão de meia hora, e de repente lançar uma bolacha histórica dessas.


Os comparsas Mari Zarpellon e André Ramiro também assinaram embaixo. 


Alcyon Digest
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22 de outubro de 2010

Akron/Family - Akron/Family [2005] + Love is Simple [2007]





Quem me apresentou o Akron/Family foram duas pessoas incríveis, o Jonathan Breger e a Jamie Menzel, seres que trombei durante uma mochilada em Montevidéu em 2006 e depois nunca mais vi, mas que deixaram várias boas lembranças. A Jamie era uma querida e tinha uma banda chamada World History. Já ele era o tipo de cara que mora num ônibus escolar com uma fogueira dentro, trabalha seis meses por ano numa fazenda de orgânicos e passa os outros seis hitchhiking por aí - bem a cara dele esse som, note-se. Na última vez em que nos comunicamos ele estava no Camboja, obviamente sem saber falar uma palavra de Khmer. 


Foi com essa cambada que aprendi a gostar do novo folk psicodélico, da New Weird America, de Animal Collective e de Riot Folk. Pasmem: eles não tomavam chá de cogumelo nem nada. Já os caras do Akron/Family... bom, só sei que eles eram alarmantemente barbudos, se refugiavam no mato, nadavam pelados no rio e adoravam um tal Ak-Ak. Estranho algo tão campestre se dar bem no Brooklyn. Culpa do Michael Gira.


Michael Gira é o fundador da Young God Records, selo de Nova Iorque especializado em figuras outsiders e off-hypes, que acabou lançando o primeiro álbum do Akron/Family, em 2005. Esse disco já nasceu clássico, convenhamos. Todos na banda tocam de tudo, rola uma sinergia absurda entre os músicos, uma coisa ritual, envolvente mesmo. O Gira se impressionou tanto com o talento desses ursos das montanhas que até os convidou a ser a banda de apoio do seu projeto Angels of Light, que acabou lançando um ótimo split com o A/F no mesmo ano.


O outro disco deste post foi lançado dois anos depois, em 2007. Mesmo sem aquela crueza singela e sincera do debut, Love is Simple pode ser considerado uma obra-prima. A loucuragem mezzo folk/mezzo prog, mezzo étnica/mezzo rocker continuou bem amarrada, numa viagem bem produzida e de arestas simetricamente aparadas  - o que incomodou alguns fãs mais xiitas, é verdade. Mas a pena mesmo é que logo após o lançamento desse puta álbum, e um pouco antes do início da turnê americana, um dos membros, Ryan Vanderhoof, saiu da banda para viver em um retiro budista Dharma. A célula foi quebrada, a coesão sonora-espiritual se diluiu e o último cd, Set'em Wild, Set'em Free, lançado em 2009, acabou ficando uma passação esquisita, sem Ak-Ak pra iluminar e guiar essas mentes tão férteis.


Akron/Family
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Love is Simple
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20 de outubro de 2010

Afghan Whigs - Gentlemen [1993]



Falar bagaceirice em música não é um troço muito fácil - se você tem estômago, claro. Talvez o problema esteja nos movimentos peristálticos das whore singers, nos axégodes e suas celulites, ou nos GTA pimps smacking their bitches up. Vai saber, pra gente normal o tema é delicado mesmo.


Hoje você pode tocar no assunto com sarcasminho de buatchy, tipo o Natalie Portman's Shaved Head, mas falar seriamente de sacanagem sem provocar vergonha alheia - porque, afinal, sacanagem é coisa séria - em plenos anos 90 não era pra qualquer um.  Antes fosse nos 70, abençoada purpurina. Mas nem pansexualismo rolava na jogada, era um esquema de amor mesmo. O cara berra e sofre bagarai.


Falando em purpurina, desconfio que o Brian Molko (outro que inseminou o róque com baixaria love stories), fã declarado de Afghan Whigs e do Greg Dulli, tenha se inspirado na letra de What Jail is Like para batizar sua Scared of Girls.


Gentlemen
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Aden - Black Cow [1999]





Sonzinho de Washington DC, embalou algumas tardes da minha recém adquirida maioridade, uns 10 anos atrás. E eu não entendia por que a catrefa do grindcore e do doom metal me achava tralálá... o estranho é que os twees também achavam que tinha nota demais e tchu tchu tchu de menos nisso aí.

Essa banda deu um sumiço neste século - lançaram o último disco em 2002 e depois nunca mais. Sei que o guitarrista e banjista (que é um octopus, por sinal) continuou tocando com um povo da New Weird America, mas parece que é só.

Há pouco sugeri esse disco a um amigo, mas parece que não se encontra mais para baixar em lugar algum - e olha que ele é empenhado na função da busca. Bom, look no further:

Black Cow